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Amor

Vinícius de Moraes sabia, assim como Freud e outros Psicanalistas, da alienação do sujeito que ama e do sofrimento causado pelo fim do amor. Apesar disso, Vinícius acredita no amor e reconhece seus benefícios para aquele que ama. 
O poeta compartilhou a visão da Psicanálise de que os amores são finitos e substituíveis. Ele reconhece o esvaziamento do amor e em sua obra, propõe a nós aceitar essa dinâmica, acatar o fim do amor e se abrir a novos amores. Tem como utopia o “amor em paz”. 
Para a Psicanálise, o amor pode ser salutar, ou seja, amar pode fazer bem às pessoas.
O amor traz sofrimento somente na medida em que não o reconhecemos simplesmente como um sentimento. 
O problema estaria em acreditar que o amor e o compromisso que se firma com a pessoa amada devessem ser uma coisa apenas. Porque compromisso engloba o sentimento amor, mas necessita de mais pra dar certo. 
O amor é sempre positivo, mas é para sentir; para nos influir e nos despertar para o “a posteriori”. Não para sustentar <sozinho> uma relação.

Metade (Oswaldo Montenegro)

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.