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Técnicas Cognitivo-Comportamentais Aplicadas à Psicologia da Saúde

Um dos objetivos da Psicologia da Saúde é conhecer e compreender os fatores que influenciam os comportamentos das pessoas em relação à saúde e a enfermidade para, a partir daí, desenvolver estratégias adequadas de intervenção. Com tal propósito, a TCC utiliza uma variedade de estratégias.

Vale ressaltar que o papel das técnicas em terapia não é reduzir o ser humano a uma concepção de realidade, e sim instrumentar o processo terapêutico. Cabe ao terapeuta selecionar de forma adequada o uso das intervenções, exigindose para isso uma postura cautelosa. As escolhas dos procedimentos na abordagem cognitivo-comportamental não são de simples manejo, como aparentam em um primeiro momento. São bem fundamentadas pela abordagem e exigem conhecimento dos princípios da terapia para sua utilização.
Uma terapia é a mistura da ciência e da arte, o terapeuta assume um papel duplo: o de cientista e o de artista. Considerase então, que as técnicas são possíveis caminhos de transição nessa tarefa dupla do terapeuta. ( Jasnow, 1978 citado por Silva, 2004)
As variáveis cognitivas podem agir no sentido de promover a modificação de comportamentos, estimulando a adoção de padrões de enfrentamento mais adaptativos, tanto por parte dos pacientes como dos profissionais envolvidos. Isso significa dizer que a forma como o paciente interpreta sua doença, sintomas, tratamento e prognóstico irá influenciar seus sentimentos e sua reação comportamental. Essas interpretações poderão facilitar ou dificultar a adesão ao tratamento, tanto na enfermaria como no ambulatório. Portanto, um dos primeiros objetivos do psicólogo cognitivo-comportamental no hospital é identificar as interpretações do paciente acerca de seu processo saúdedoença para iniciar um trabalho de reestruturação de pensamentos disfuncionais, adotando interpretações que tenham base em evidências existentes na realidade ao invés da consideração de premissas irracionais.

1. Conceituação e Formulação de Problemas Médicos em TCC

Uma formulação delineia como um problema, queixa ou sintoma surgiu, como se manifesta e o que o mantêm. É o elo entre teoria e prática, onde uma explicação é formada, a partir da integração de aspectos físicos, psicológicos e sociais que norteiam a intervenção. Essa explicação é sempre considerada como uma hipótese, podendo ser reformulada em função de elementos novos ou mal compreendidos. Toda formulação deve ser devolvida e discutida com o paciente, de forma que ambos, terapeuta e paciente, possam entender o que está acontecendo. A formulação ajuda o paciente a sentir maior controle, aumentando sua autoeficácia e diminuir sua ansiedade. Além disso, forma uma aliança colaborativa com o terapeuta, que incentiva uma postura ativa para a resolução ou melhoria do quadro. Através da formulação, também fica mais claro para o paciente a relação entre pensamento - sentimento - comportamento e como esses fatores podem influenciar no problema médico e vice-versa.

De acordo com White (2000) podemos fazer uma diferenciação entre dois níveis de formulação: um nível de formulação de caso e um nível de formulação de problema. No nível da formulação de problemas ocorre a aplicação dos princípios da teoria cognitiva para a compreensão dos fatores que contribuíram para a ocorrência, severidade e natureza de um problema específico, por exemplo, um paciente se queixando de dor lombar crônica pode ter uma conceituação do problema, identificando pensamentos, sentimentos e comportamentos envolvidos nessa queixa específica. A intervenção é delimitada à queixa apresentada naquele momento. Essa intervenção é muito útil em situações ambulatoriais em que a intervenção do psicólogo no hospital precisa ser focal. Algumas perguntas podem ser úteis nesse nível de intervenção, como descritas na figura 1.

Figura 1. Perguntas úteis para formulação de problemas (White, 2000)



O nível de formulação de caso é uma intervenção mais profunda e abrangente que busca integrar todos os aspectos possíveis da vida do paciente, incluindo informações sobre experiências prévias com doença, informações sobre crenças pessoais e acerca do problema médico.

É importante analisar como todas essas variáveis interferem na vida da pessoa naquele momento, como influenciam seus comportamentos e sentimentos. Nesse nível, montase uma folha de conceituação cognitiva do caso, essa conceituação resumindo os aspectos mais importantes ativados no problema médico atual, relacionando o modo de funcionar antes e após a doença. Essa conceituação inclui os aspectos do modelo cognitivo descrito por Beck et al. (1997), como situações, sentimentos, pensamentos automáticos, comportamentos recorrentes. Com base no significado desses pensamentos automáticos e os dados relevantes da história de vida chega-se à hipótese de uma crença central, das suposições condicionais usadas para lidar com essa crença (uma positiva e outra negativa) e as estratégias comportamentais que a pessoa utiliza para lidar com a crença sem a doença, no início da doença e atualmente. Algumas perguntas são úteis nesse nível, como mostra a figura 2.

Figura 2. Perguntas úteis para a formulação de caso (White, 2000)



Abaixo segue o exemplo de um caso e sua formulação nos dois níveis, formulação ao nível de caso (figura 3) e formulação ao nível de problema (figura 4).

Figura 3. Exemplo de formulação de caso


Figura 4. Exemplo de formulação de problema



Exemplo de Caso:

J.A, sexo feminino, tem 45 anos, é casada há 20 anos e tem dois filhos (menino de oito e menina de 10). Seu pai é falecido e sua mãe tem mal de Alzheimer, vivendo atualmente em instituição particular para idosos. Possui um irmão de 35 anos que mora fora do Brasil. Relata sentirse sobrecarregada com os problemas da mãe, a quem visita todos os dias e exige que os filhos e marido a acompanhem no final de semana. Muitas vezes isso é motivo de briga. Relata que sua infância foi comum embora sentisse ciúmes do irmão. Diz que os pais tinham preferência por ele, tecendo inúmeros elogios e considerando-o "brilhante", opinião compartilhada por J.A. Os pais cobravam que tomasse conta dele, dando um "bom exemplo". Considera que na escola apresentava desempenho "médio", ficando sempre por volta da média oito. Nunca repetiu nem ficou de recuperação. Os seus pais sempre acharam que isso era obrigação e não mérito. A família de J.A era bastante exigente, seu pai cobrava sempre comportamentos considerados bons, como notas altas, dedicação a casa, arrumação e organização. Relata que quando criança, ao se machucar, o pai sempre lhe dizia para engolir o choro pois ela era forte e que não precisava chorar. Sua mãe era mais afetuosa porém jamais enfrentava o pai. Costumava dizer que "mulher deve sempre agradar o marido".

J.A se considera dedicada, formouse em engenharia química e trabalha em empresa do setor público. Gosta de seu trabalho e considerase exigente, sempre buscando a perfeição. Sua dedicação ao trabalho é grande, ficando na empresa por volta de 12 horas diárias, muitas vezes se alimentando e dormindo mal. Está acima do peso e faz dietas rápidas, como uma semana de sopa, mas sempre volta a engordar. Não tem tempo para atividade física. Quando chega do trabalho cobra dos filhos estudo (tarefas de casa do colégio) e prepara o jantar. A família tem o hábito de jantar unida. Seu marido trabalha como engenheiro em outra empresa, também o equivalente a ela em horas. Quando sai do trabalho vai sempre a academia, J.A. relata que ele é vaidoso, faz questão de fazer atividade física e alimentarse bem. Ela o estimula, só fazendo questão de sempre saber onde ele está. Age assim também com os filhos. Considera sua responsabilidade cuidar da casa e da rotina dos filhos. Por ficar preocupada com o futuro deles, acha importante ser exigente para prepará-los melhor para a vida, considerada por ela como "difícil".

Há 1 ano J.A recebeu o diagnóstico de câncer de mama e fez sua 1ª cirurgia. Relata estar há 2 anos sem tempo de ir ao ginecologista, e quando foi diagnosticada o tumor estava avançado, teve de fazer retirada total do seio e atualmente está fazendo quimioterapia.

Em um primeiro momento sua reação foi otimista ("fui forte"), enfrentou a cirurgia, ia ao médico sozinha e resolvia tudo. Porém, após receber a notícia da necessidade de quimioterapia, J.A passou a ficar irritada, agredindo verbalmente marido, filhos e médicos. Procura se isolar, não conversa sobre o problema com a família e sempre que tocam no assunto ela é agressiva. Não dorme mais no mesmo quarto do marido, sentindose aleijada, imperfeita e apresentando os seguintes pensamentos: "ele não pode ver isso, é horrível"; "não preciso dele, nem de ninguém, sempre me virei sozinha e posso continuar assim, eu é que sei da minha vida".

Está recebendo acompanhamento de uma terapeuta quando vai a clinica para receber a quimioterapia. Aceitou conversar com ela somente por achar que "não tem nada para fazer mesmo, tanto faz, meu médico faz questão e para ele não me encher eu aceito". Em uma conversa com a terapeuta J.A. disse sentir raiva da doença, sente-se culpada por não ter visto antes ("É culpa minha e vou sofrer sozinha, ninguém pode sofrer por minha estupidez e descuido"; "Como pude ser tão burra!"; "Sou um fracasso total, me descuidei"; "Não tem mais jeito"; "Essa doença é uma punição porque nunca me esforcei o suficiente na vida"; "Agora tenho mais que sofrer"; "Não posso parar de cuidar da casa e dos filhos e não posso parar de visitar minha mãe... mas me sinto cansada e muitas vezes enjoada para fazer as coisas... isso me arrasa"). Atualmente J.A não segue as recomendações médicas de dieta e repouso, muitas vezes fazendo coisas além do limite físico e prejudicando-se com isso.

No nível de formulação de caso, deve ocorrer a identificação de estruturas mais profundas do modelo cognitivo, as crenças centrais, suposições condicionais e estratégias comportamentais. As interpretações que um indivíduo faz do mundo estruturam-se progressivamente, durante seu desenvolvimento, formando crenças, regras ou esquemas. Estes ajudam a orientar, organizar, selecionar suas novas interpretações, bem como ajudam a estabelecer critérios de avaliação de eficácia ou adequação de sua ação no mundo (Rangé, 2001).

Entre os esquemas de um indivíduo, um ou alguns deles tendem a se estruturar como mais centrais, funcionando como condensador (es) das experiências recorrentes e/ou marcantes da relação com as pessoas significativas de sua formação. Uma crença central funciona como uma matriz das interpretações momentâneas das relações de um indivíduo com o mundo e dispara pensamentos automáticos que vão influenciar sentimentos e comportamentos. As suposições condicionais ajudam o indivíduo a funcionar cognitivamente em resposta à crença central, sendo uma suposição mais positiva e outra mais negativa, modulando sua ação e interpretação dos acontecimentos. As estratégias comportamentais se referem ao "como", ou seja, quais comportamentos o indivíduo desenvolve em resposta à crença central. A identificação e modificação dessas estruturas mais complexas é fundamental para uma resposta terapêutica duradoura em terapia cognitiva. Já a abordagem ao nível do problema é focal, objetivando a solução de problemas imediatos.


2. Distorções Cognitivas

Um dos objetivos da terapia cognitivo-comportamental é identificar e modificar distorções do pensamento que possam estar trazendo sofrimento ao indivíduo. As distorções cognitivas, como são chamadas, representam formas de interpretação que, em geral, privilegiam somente parte das informações disponíveis no meio em que a pessoa está inserida. Como não correspondem a uma forma de pensar baseada na análise completa das evidências, podem fazer com que o indivíduo chegue a conclusões falhas, limitando a percepção da situação e disparando sentimentos, reações físicas e comportamentos disfuncionais.

Embora todos os indivíduos possam apresentar distorções cognitivas, elas se apresentam com mais freqüência nos transtornos psicológicos. De acordo com Beck et al. (1997) cada transtorno emocional teria uma temática específica. Nos quadros depressivos, o conteúdo dos pensamentos giraria em torno da desvalorização e perda; nos ansiosos estariam presentes interpretações de perigo e ameaça e nas fobias, as preocupações sobre perigos situacionais.

Existem vários tipos de distorções. Apresentaremos, a seguir, exemplos de pensamentos comuns presentes nos pacientes hospitalares (Figura 5).

Figura 5. Tipos de distorções cognitivas



3. Treinamento de Habilidades Sociais

O treinamento em habilidades sociais (THS) não pode ser considerado uma técnica e sim um campo de estudo abrangente, porém está colocado aqui de forma resumida por usar diversas técnicas cognitivas e por ter uma contribuição rica na psicologia da saúde.

O campo de estudo das habilidades sociais é um campo recente que vem recebendo cada vez mais atenção, principalmente pela relação existente entre o repertório de habilidades sociais e a saúde, a satisfação pessoal, a realização profissional e a qualidade de vida (Del Prette e Del Prette, 2001).

Um exemplo de aplicação do THS na psicologia da saúde é sua utilização com pacientes com dor crônica. Na literatura científica, muitos estudos têm incluído o treino assertivo e de habilidades de comunicação no tratamento de pacientes com dor crônica (Cowan e Lovasike,1991; Corbin, Hanson, Hopp e Whitley ,1988; Philips, 1998; Caudill 1998; Winterowd, Beck e Gruener ,2003 e Penido, Rangé e Fortes, 2005).

Os resultados de um estudo sobre habilidades sociais em pacientes com fibromialgia e artrite reumatóide indicaram que, em comparação com um grupo controle sem dor crônica, os grupos com dor apresentaram um repertório de habilidades sociais mais comprometido, e, especificamente o grupo com fibromialgia, apresentou maior dificuldade nas habilidades assertivas dizer não e pedir mudança de comportamento (Penido, 2004).

Um exemplo do Treinamento de Habilidades Sociais com dor crônica é em relação ao tópico responsabilidade, uma forma de lidar com os problemas é responsabilizar os outros, normalmente isso aparece em frases iniciadas por "você". Em geral, esse tipo de comunicação gera uma resposta defensiva no outro, uma vez que o foco da comunicação está no outro. Afirmativas do tipo: "Você não liga para o meu problema!"; "A culpa é sua, está sempre me pressionando!" são exemplos disto. Os pacientes podem aprender a identificar quando estão usando frases que começam por "você" e tentar modificar para frases que começam com "eu".

Outra forma de responsabilizar os outros é iniciar frases perguntando "por que". Geralmente o objetivo de iniciar uma frase com por que é entender os motivos do outro para ter agido de uma determinada forma, porém tende a colocar o outro na defensiva com a sensação de ter de se explicar. Esse tipo de pergunta tende a ter um efeito negativo. Exemplos: "Por que você não me ajuda mais?"; "Por que você é sempre tão impaciente comigo?"; "Por que você grita comigo?"; "Por que você não liga para minha dor?". Em terapia, os pacientes podem aprender a transformar essa comunicação em um modo mais positivo, uma vez que eles já aprenderam a compreender a si mesmo e ao outros, identificando pensamentos, sentimentos e objetivos (Figura 6).

Figura 6. Exemplos de comunicação assertiva



Programas para desenvolvimento de habilidades sociais são amplamente usados para melhorar a comunicação, sendo aplicado em trabalhos com enfermeiros, médicos e pacientes.

4. Relaxamento

O relaxamento pode ser definido com um esforço geral para se diminuir a excitabilidade do organismo. Podem ser usadas diferentes técnicas com esse objetivo, como a respiração diafragmática, imagem mental relaxante e relaxamento muscular progressivo, descritas a seguir.

Uma forma de relaxar é através da respiração. Um exemplo de respiração profunda é a diafragmática, cujo procedimento é o de encher o pulmão todo de ar, inclusive a parte inferior do pulmão, geralmente não utilizada na respiração pois a musculatura diafragmática comprime essa região, fazendo com que essa pequena área não seja aproveitada. Ao movimentarmos o diafragma para baixo, ou seja, "enchendo a barriga", promovemos a inspiração. O vácuo existente entre o diafragma e os pulmões faz com que esses se encham de ar, resultando em uma boa oxigenação. Movimentandose o diafragma para cima, ou seja, "encolhendo a barriga", promovemos o total esvaziamento dos pulmões, com ausência de resíduos de CO2. Esse tipo de respiração é calmante.

Podese aliar a respiração diafragmática a uma imagem mental relaxante. Neste caso, pedese ao paciente para deixar vir à mente uma imagem bem tranqüila, ocorrida em algum momento de sua vida. Após identificar a cena, o terapeuta explora os detalhes mais relaxantes e as sensações. A descrição da cena deve incluir os elementos emocionais (sinais visuais, sons, sensações de movimento, temperatura) que induzem a uma sensação de tranqüilidade. Posteriormente, o paciente deve utilizar a cena como recurso de relaxamento

Um tipo de relaxamento muito utilizado, principalmente no manejo da dor crônica e ansiedade, é o muscular progressivo. Esse relaxamento, proposto por Jacobson, ajuda o paciente a identificar diferentes níveis de tensão do organismo e livrar os músculos de tensão (Rangé, 2001). Nesta técnica é utilizada a contração muscular seguida de relaxamento, de diversos grupos musculares, iniciando pelos membros, depois o tronco e a cabeça. Através desse treino, a pessoa aprende a identificar e diferenciar níveis de tensão muscular podendo relaxar a musculatura quando ainda está se iniciando a tensão.

Alguns estudos apontam a eficácia do uso de técnicas de relaxamento em problemas médicos. Um estudo realizado por Aivazyan, Zaitsev, Salenko, Yurenev & Patrusheva (1988), investigando o uso do relaxamento em pacientes hipertensos, concluiu que o uso de técnicas de relaxamento produziu uma diminuição da pressão arterial em comparação a um grupo controle. Burish e Jenkins (1992) pesquisaram o uso de técnicas de relaxamento na diminuição dos efeitos colaterais de pacientes submetidos à quimioterapia. Este estudo, envolvendo 81 sujeitos, concluiu a eficácia da técnica. McCain et al. (2008) realizaram um estudo randomizado com 252 indivíduos HIV positivo, avaliando o uso de técnicas de relaxamento no aumento da resposta imunológica desses pacientes. Também nessa pesquisa foi encontrada uma resposta positiva da técnica em comparação a um grupo controle. Dessa forma, o uso de técnicas de relaxamento no setting hospitalar pode ser considerado uma forma de intervenção muito útil e variada.

5. Dessensibilização Sistemática

A dessensibilização sistemática, criada por Wolpe na década de 40, é das principais técnicas utilizadas no tratamento de fobias (Choy, Fyer & Lipsitiz, 2007). Ela consiste em treinar o indivíduo para que permaneça relaxado ao se expor às situações que lhe causem ansiedade. Para isto, primeiramente o paciente é submetido ao ensino e treino de técnicas de relaxamento. Depois uma escala crescente de ansiedade é construída, junto com o terapeuta, onde todas as situações temidas são listadas e organizadas hierarquicamente de acordo com o grau de medo que provoca no indivíduo. Podese utilizar uma escala de 0 a 100, onde 0 são as situações de nenhuma ansiedade e 100 as que provocam maior ansiedade.

Após a construção da hierarquia, o paciente é exposto a cada uma dessas situações, começando pela que dispare menor nível de ansiedade. Ao perceber que está ficando ansioso, é estimulado a utilizar a técnica de relaxamento até que se acalme e possa prosseguir com outra situação temida. Assim é feito progressivamente, até alcançar a de grau mais forte. Partindo do pressuposto de que relaxamento e ansiedade sejam respostas incompatíveis, onde uma não pode ocorrer junto com a outra, o objetivo é condicionar a sensação de relaxamento às situações fóbicas.

Para ilustrar a aplicação dessa técnica no ambiente hospitalar, podem ser citados estudos que investigam a eficácia da dessensibilização sistemática em pacientes com câncer que estejam sendo submetidos à quimioterapia (Carey & Burish, 1988; Redd & Andrykowski, 1982). Vários pacientes associam os sintomas da quimioterapia (estímulos incondicionados) a cheiros, sons e ao ambiente do procedimento (estímulos condicionados), disparando sintomas de náusea e vômito antes mesmo das sessões de quimioterapia. Esse processo torna o tratamento ainda mais estressante, fazendo com que alguns pacientes desistam de prossegui-lo.

A aplicação da técnica de dessensibilização sistemática a esses casos consiste em 1) treino em relaxamento; 2) construção de uma hierarquia de medos (ver figura 7); 3) visualização pelo paciente de cada uma das situações, sendo que ao sentir que está ficando ansioso, a imagem mental é paralisada e o relaxamento é iniciado até que o indivíduo volte a ficar calmo o suficiente para passar para a próxima situação da hierarquia.

Figura 7. Exemplo de uma hierarquia de medos para pacientes com náusea e vômitos antecipatórios em decorrência da quimioterapia



Uma variação dessa técnica pode ser aplicada em casos pediátricos. No cotidiano hospitalar, é comum que crianças fiquem muito ansiosas em relação aos instrumentos e procedimentos médicos. Agulhas, injeções, sangue e até mesmo o próprio setting hospitalar muitas vezes são tidos como ameaçadores. Isto pode desencadear comportamentos contraproducentes ao tratamento infantil, como recusa em tomar medicações, colaborar com exames, etc. Com o objetivo de diminuir essa ansiedade, os psicólogos podem organizar atividades lúdicas com as crianças cujo tema seja o próprio hospital. Podem ser utilizadas, por exemplo, seringas de plástico e fantasias de médico nas brincadeiras, para que se sintam mais relaxadas quando expostas a essa realidade.

6. Distração Cognitiva

A distração consiste na mudança do foco de atenção para outras situações que podem ser agradáveis e muitas vezes encontramse disponíveis no próprio ambiente. Um exemplo é o uso dessa técnica em pacientes com dor crônica. A influência da atenção na amplificação da dor é um processo bastante estudado. Diversos autores concordam que a atenção dirigida para dor aumenta a intensidade da experiência dolorosa e que distrair a atenção da dor diminui a intensidade da experiência dolorosa (Barsky, 1979,1992; Turk e Gatchel, 1996; McCracken, 1997; Keefe, Dunsmore & Burnett, 1992; Angelotti,1999; Pincus e Morley, 2001).

Com base na idéia de que a atenção influencia a percepção de dor, surgiu uma área recente de pesquisa que investiga o uso de programas de realidade virtual no tratamento de pacientes que sofreram queimaduras graves. De acordo com Hoffman, Patterson, Carrougher e Furness (2000), pacientes que sofreram queimaduras graves ao estarem em repouso reportam pouca ou nenhuma dor. No entanto, ao receberem cuidados médicos, como asseio das queimaduras e troca de bandagem, relatam níveis muito altos de dor. Esse dado se torna ainda mais relevante ao se pensar nas crianças vítimas de queimaduras graves. Uma alternativa para ajudar a diminuir o sofrimento desses pacientes tem sido o uso de programas de realidade virtual no tratamento. A idéia básica é usar esses programas para criar uma realidade virtual que prenda a atenção do paciente, distraindo-o da sensação dolorosa. O estudo supracitrado de Hoffman e colaboradores teve como objetivo comparar o efeito do uso de um programa de realidade virtual ao uso de vídeo-game na intensidade da dor relatada por dois pacientes que sofreram queimaduras graves ao trocarem as bandagens. Os dois pacientes relataram níveis menores de dor na troca das bandagens quando em uso do programa de realidade virtual em comparação a mesma situação jogando vídeo-game.

Um outro estudo piloto, realizado na Austrália, investigou o uso de programas de realidade virtual no tratamento de pacientes que sofreram queimaduras graves. Foram comparados dois grupos: o primeiro recebeu apenas medicação para aliviar a dor no momento da troca das bandagens e o segundo recebeu medicação e utilizou o programa de realidade virtual. O segundo grupo apresentou níveis menores de dor e ansiedade (Dunn, 2004).

Como foi visto, uma variedade de técnicas pode ser aplicada para potencializar o tratamento dos pacientes com problemas médicos. Foi objetivo dessa sessão discorrer sobre algumas técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas na prática hospitalar. A apresentação dos resultados de pesquisas recentes teve o intuito de mostrar a importância e aplicabilidade crescente da TCC na psicologia da saúde.

Autores: Fernanda Martins Pereira; Maria Amélia Penido

Paralisia do Sono

Já ouviu falar em “paralisia do sono”? É um fenômeno muito comum para algumas pessoas mas completamente estanho para outras. É um estado em que nosso corpo não está nem acordado e nem dormindo, e aí coisas estranhas podem acontecer.

Quando dormimos, algumas partes do nosso corpo “se desligam” para que a gente não saia andando por aí. No entanto, algumas vezes é possível a pessoa acordar mas o seu corpo não. Muitas vezes a pessoa não acordou completamente e pode ver, por exemplo, seu quarto com influência dos sonhos. É nesse estado que muita gente relata ver vultos, extraterrestres ou espíritos. Na Idade Média era muito comum pessoas relatarem que viam bruxas, espíritos e criaturas malignas.

Curiosamente, nem todo mundo se sente mal nessa situação. Embora uns fiquem bastante ansiosos e, quem sabe por isso, vejam imagens negativas, outros ficam bem relaxados e tiram proveito da situação.

Paralisia do Sono é uma condição caracterizada por uma paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos freqüência, imediatamente antes de adormecer.
  
Sintomas
Os sintomas da paralisia do sono incluem:
Paralisia: ela ocorre pouco antes da pessoa adormecer ou imediatamente após despertar. A pessoa não consegue mover nenhuma parte do corpo, nem falar, e tem apenas um controle mínimo sobre os olhos e a respiração. Esta paralisia é a mesma que acontece quando uma pessoa sonha. O cérebro paralisa os músculos para prevenir possíveis lesões, já que algumas partes do corpo podem se mover durante o sonho. Se uma pessoa acorda repentinamente, o cérebro pode pensar que ela ainda está dormindo, e manter a paralisia.
Percepções: Imagens e sons que aparecem durante a paralisia. A pessoa pode sentir presenças atrás dela ou pode ouvir sons estranhos. As percepções parecem-se muito com sonhos, possivelmente fazendo a pessoa pensar que ainda está sonhando. Algumas pessoas relatam sentirem um peso no peito, como se alguém ou algum objeto pesado estivesse pressionando-o. Há também pessoas que relatam terem saido do corpo, ou até "flutuar". Em projeciologia, este fenômeno natural é chamado de catalepsia projetiva, que são os momentos que precedem ou sucedem a projeção da consciência. Normalmente estamos inconscientes durante a projeção da consciência que ocorre durante o sono do corpo físico, mas alterações no padrão de sono, ou exercícios metódicos podem despertar a lucidez e trazer domínio da projeção da consciência.
Estes sintomas podem durar de alguns poucos segundos até vários minutos e podem ser considerados assustadores para algumas pessoas. 

Possíveis Causas
A paralisia do sono acontece durante o período de sono REM, prevenindo assim movimentos corporais durante um sonho. Muito pouco se sabe sobre a fisiologia da paralisia do sono. Entretanto, já foi sugerido que ela pode estar relacionada à inibição pós-sináptica de neurônios motores na ponte do tronco cerebral. Particularmente, níveis baixos de melatonina podem interromper a despolarização em atividade nos nervos, a qual previne o estímulo dos músculos, essa melatonina esta ligada ao consumo excessivo de bananas em um certo horário do dia, entre 14:00 H e 20:00 H ou pelo menos 5 horas antes de dormir e 3 horas depois de acordar.
Vários estudos concluíram que a maioria das pessoas experimentará a paralisia do sono pelo menos uma ou duas vezes em suas vidas.
Muitas pessoas que freqüentemente passam pela paralisia do sono também sofrem de narcolepsia. Alguns estudos sugerem que existem vários fatores que aumentam a probabilidade da ocorrência de paralisia do sono e de alucinação. Eles incluem:[1]
  • A indução consciente da paralisia do sono também é uma técnica comum para entrar em um estado de sonho lúcido ou projeção da consciência.
  • Dormir de barriga para cima
  • Agenda de sono irregular; cochilos; privação de sono
  • Stress elevado
  • Mudanças súbitas no ambiente ou na vida de alguém
  • Um sonho lúcido que imediatamente precede o episódio.
  • Sono induzido através de medicamentos, como anti-histaminas
Fonte: Wikipédia

Quando é a hora certa de falar de sexo com meu filho?

Começamos a falar de sexo com nosso filho a partir do momento que ele comece a conhecer seu corpo. Mais cedo ou mais tarde seu filho começará a fazer perguntas sobre sexo. Alguns pais mais modernos acreditam que quando chegar o momento, a discussão sobre o tema será fácil, que tudo será uma questão de começar a falar. Tudo parece muito fácil, mas quando chegar a hora da conversa, seguramente na maioria dos casos, parecerá mais complicado, tratando-se de crianças.
Existe algum truque? Claro que sim. O truque é manter-se firme, jamais inventar ou mentir, não evadir-se da pergunta, e não responder mais do que seu filho perguntar. O ideal é falar-lhe de sexo em conta-gotas, ou seja, à medida que sua curiosidade segundo a idade que tenha.
É conveniente falar de sexo com seu filho desde o momento em que ele começar a conhecer seu corpo e a dar nomes. Para as crianças é muito importante que cada parte do seu corpo tenha um nome e não um apelido. Se fala sobre cabeça é cabeça, de mão é mão, de pênis é pênis, de nádega é nádega e assim por diante. Evite dar outros nomes para que a criança não se sinta confundida. Outra vantagem de falar com os filhos sobre sexo é aumentar a intimidade e a afetividade entre ambos, abrir caminhos para que se possa discutir em casa sobre tudo e dar a segurança ao seu filho para que sempre pense: “vou perguntar pro papai e pra mamãe porque eles sempre me respondem”.

As perguntas das crianças sobre sexo

As perguntas que as crianças mais fazem aos pais e algumas sugestões de respostas:

Por que sou diferente de minha irmãzinha?

A partir dos dois anos, e em alguns casos até antes, os meninos e as meninas notarão susa diferenças quando buscarem conhecer seus próprios corpos. Neste caso, o melhor é dizer-lhes que um menino é diferente da menina, e que ele não se preocupe porque todos os homens são diferentes das mulheres. Para um menino pequeno essa resposta é suficientes.

De onde eu nasci?

Esta é uma pergunta que podem fazer os meninos a partir dos quatro anos de idade. Os meninos sabem que as frutas vêm do mercado ou da feira, e os brinquedos das lojas, e por isso querem saber de onde vieram. Neste caso , limite-se a dizer que vieram dos seus pais.

Por que os meninos fazem xixi em pé e as meninas sentadas?

É o mesmo que perguntar o porque dos meninos trocam as fraldas pelas cuecas e as meninas pelas calcinhas. Não há muito o que explicar. Explique o conceito de diferença. Que os meninos e as meninas são diferentes fisicamente e que também se diferem na forma de se vestir. As meninas usam vestido, e os meninos usam mais calças, entre outras coisas.

Como saí de dentro da sua barriga?

Dependendo da idade que tenha a criança, a resposta deve ser dada de uma forma mais ou menos clara. Se o menino é muito pequeno, limite-se a dizer que ele saiu da barriga e nada mais. Mas se com isso a criança não se sente satisfeita e você notar que pode entender porque já é um pouco maior, diga-lhe que ela saiu de um dos três buraquinhos que tem as mulheres. Um é para sair a caquinha, o outro é para urinar, e o outro é para sair o bebê. Com isso, seguramente, a criança se sentirá satisfeita e não te perguntará nada mais.
Mais importante que responder ao seu filho quando surgirem as perguntas sobre a sexualidade, é a atitude que terá ao respondê-las. O tom da voz, a segurança das informações, o fato de estar tranquilo ou não, tudo isso é captado pela criança em forma de informação.
Outro conselho importante, é que no mundo de hoje, devido a mídia, coleguinhas de escola que não possuem os mesmos valores e princípios que o seu filho, o interesse pela sexualidade tem aparecido cada vez mais cedo, e isso confunde a cabecinha da criança, que tem recebido informações que ainda não conseguem compreender. É por isso que os pais devem ser os melhores amigos dos filhos, para que toda dúvida que tiverem, corram para os pais e terão a resposta mais acertada.

By Fernanda Nogueira

Caso do Professor que Matou a Aluna: o Psicopata Mora ao Lado?

O interesse do público pelas notícias sobre crimes está em ver a punição por crimes que desejamos ou aceitamos cometer um dia . Para Freud, a repressão dos instintos delitivos por meio da moral não os destrói. Esses instintos apenas ficam guardados no inconsciente por um sentimento de culpa, uma tendência a confessar. Ao ver um programa policial, haveria, segundo Freud “[...] uma compensação às restituições que alguém coloca ao próprio sadismo”. Em Totem e tabu, afirmou que a tentação de repetir o ato do transgressor exigia o isolamento e a quarentena de quem violava um tabu. Desse modo, toda reação punitiva tinha como pressuposto, entre os membros do grupo, impulsos idênticos aos proibidos. Para Mead, sob outro enfoque, mas chegando aos mesmos resultados de Freud, a hostilidade em relação aos criminosos contribui para aumentar a solidariedade e o amor dos cidadãos não delinqüentes . Isso implicaria um reforço coletivo da moralidade. No entanto, por trás desse fundamento racional do castigo, há sua verdadeira função: “a gratificação pelas agressões desejadas, porém reprimidas” .
O caso do professor que matou a aluna e ex-namorada parece contrariar essa tese. A maioria do povo não admite sequer matar alguém, quem dirá atirar três vezes contra sua “alma gêmea”. Além disso, todos buscam distanciar-se do assassino, seja por sua visão equivocada do amor como “posse”, seja por seu aparente perfil “psicopata”.
O curioso é que, para os maiores filósofos da humanidade, o amor depende da posse ou está relacionado ao que sentimos quando nos apoderamos de algo. Schopenhauer é explícito ao relacionar amor com posse. Para esse filósofo, o amor é uma ilusão subjetiva, um estratagema para que a natureza consiga atingir seu fim: a multiplicação da espécie. Isso se confirmaria pelo fato de que o apaixonado não deseja simplesmente a correspondência amorosa: “[...] mas a posse, isto é, o gozo físico” . A busca inconsciente dos enamorados pela procriação também se confirmaria pelo fato de os homens gostarem de mulheres com seios grandes (mais leite para as crias) e também pela atração entre os opostos (maior mistura de material genético, criando espécies mais fortes) .
Na obra O banquete, de Platão, sete amigos tentam descrevem o amor. De ressaca por uma noitada anterior, resolvem beber apenas o suficiente para explicarem qual o melhor conceito sobre o “amor”. Não importa descrever a versão de cada um. Até porque Platão considera sofismas as seis primeiras análises. Endeusam o sentimento “amor”, mas não o explicam. Só havia um filósofo no recinto, aquele que estava realmente à procura da verdade . Era Sócrates. Ele teria ouvido a verdade sobre o amor de uma mulher de Mantinéia, Diotima. Para ela, o amor é fruto da conspiração da Pobreza de ter um filho com Recurso, filho de Prudência. Depois de um banquete em homenagem ao nascimento de Afrodite, banqueteavam-se os Deuses. Recurso exagerou na dose e acabou cochilando no Jardim. A Pobreza aproveitou-se da situação e teve um filho com Recurso, o Amor. Esse filho vive num extremo. Será para sempre pobre em homenagem a mãe. Mas puxou o pai e, portanto, sabe o que é belo e bom. Está sempre à procura disso, mas nunca consegue. Daí porque o amor é necessidade, é desejo. Isso só existe, segundo Sócrates, quando não temos. Afinal, somente se deseja: “[...] o que não está à mão nem consigo, o que não tem, o que não é ele próprio e o de que é carente”. Por isso Romeu e Julieta se amam, porque nunca podem ter um ao outro. O obstáculo é a rixa entre as famílias. Em Tristão e Isolda, o cavaleiro chega a morrer de amor ao acreditar na impossibilidade de ter a Princesa em seus braços. Aqui o empecilho que sustenta o amor entre os pombinhos é a diferença entre classes sociais. Daí porque consideram o amor platônico um sofrimento, o eterno desejo por aquilo que não se tem.
O que importa considerar é que Sócrates não diferencia, em essência, o amor entre seres humanos do amor pelas coisas. Daí aproximar o sentimento de amor ao de posse, à necessidade de ter. Nesse sentido, é amor tanto o desejo de um jovem por uma Ferrari quanto pela mulher que o despreza. Nos dois casos, há desejo pelo que não se tem. O afeto até seria maior pela Ferrari. Afinal, quanto maior é a impossibilidade de ter, maior o desejo. No segundo caso, pelo menos já se tem a amizade da garota, falta uma dose de coragem e competência para usar as palavras certas para acertar o coração da donzela. Da Ferrari, tem-se somente um pôster. O que faz Sócrates é apenas graduar em termos de qualidade o amor. Seria próprio dos jovens, segundo ele , desejar coisas/corpos bonitos, enquanto os mais velhos teriam interesse em almas belas. No entanto, em ambos os casos, há necessidade de ter, e, portanto, amor.
O tratamento do amor desvinculado da posse é atribuído sem razão ao gênio de Aristóteles. Isso porque, na Ética eudemeia , o autor afirma que amar é regozijar-se. Nesse sentido, amar seria simplesmente alegrar-se com a existência do outro. André Comte, conferencista na Universidade de Paris, esclarece o equívoco. Segundo o autor, quando Aristóteles conceitua o amor dessa forma emprega o termo grego phílis – que quer dizer amizade – e não eros – o amor erótico. O primeiro termo descreveria: “o amor entre os pais e os filhos, ou entre os filhos e os pais ”. Seria o amor por aquele que não nos faz falta: “a quem com compartilho a sua vida, e ele(a), a minha” . O termo philis também seria adequado para descrever o amor entre as pessoas casadas, aos companheiros. Já que, segundo André, o amor erótico não sobreviveria ao casamento. Não obstante, o que importa é que Aristóteles não divergia de Sócrates quanto ao conceito de amor erótico e sua vinculação irremediável à idéia de posse.
Ainda segundo a concepção socrática de amor, é preciso distinguir o distanciamento voluntário e involuntário entre o sujeito e o objeto de desejo. Só assim se desmistifica o fato de matar por amor. O amor-erótico está sempre entre os extremos, entre a ignorância do outro ao seu conhecimento total. Aquele que não conhece não pode amar, tampouco aquele que compreende integralmente o outro. É preciso criar fantasia sobre o ser amado, daí a figura do príncipe encantado. Quando ele morre, acaba o amor. A canção de Claude Nougaro (Onde fica o Sena?) ilustra bem isso. Segundo ele: “[...] só que existe o tempo/ e o momento fatal/ em que o marido malvado/ mata o príncipe encantado”. Para que permaneça o amor, deve haver sempre a vontade, o desejo de possuir, de conhecer o objeto do desejo. Portanto, a distância entre o apaixonado e o objeto do desejo deve sempre existir. Mas a aproximação deve sempre ser buscada, ainda que isso diminua o amor. Quem aumenta a distância voluntariamente até aumenta o amor, mas não age em razão dele.
Outros são os motivos de quem mata supostamente por amor. Pode ser o egoísmo de não querer o objeto do desejo com outra pessoa ou até mesmo a ânsia de acabar com o sofrimento gerado pelo amor platônico. O prazer gerado pelo sexo, o total abandono do “eu”, implica o desejo da eterna repetição desse estado livre de preocupação. Daí a dependência pelo corpo, pelo físico. A consciência dessa perturbação, de que pode perder o objeto de desejo por investidas de terceiros, chama-se ciúme. Segundo Krishnamurti, nele existe sofrimento, ódio e violência. Além disso, a necessidade de repetir experiências com o objeto do desejo, e a consciência dessa impossibilidade – como um “pé na bunda” bem dado –, gera o sofrimento do amor platônico. Daí o alívio sentido pelos assassinos apaixonados quando extinguem o objeto de desejo.
A intensidade com que esses sentimentos vis se manifestam nos autores de crimes bárbaros sugere a tese de que, nesses casos, haveria um desvio comportamental no agente, uma tendência inata para cometer crimes, um psicopata. A professora Ana Beatriz, Psiquiatra e a autora do best seller “mentes perigosas: o psicopata mora ao lado” defende a existência de indivíduos com personalidade voltada ao crime. Segundo ela, a psicopatia não é uma doença mental. O ato criminoso praticado por esses indivíduos desviados é fruto de : “[...]um raciocínio frio e calculista combinado com uma total incapacidade de tratar as outras pessoas como seres humanos pensantes e com sentimentos”. Elenca diversas características comuns aos psicopatas. Segundo a autora, o indivíduo com personalidade desviada, um criminoso em potencial, é espirituoso e divertido, não se constrange quando desmascarado com suas mentiras, tem uma visão narcisista e super valorizada de seus valores e sua importância, além de outras dez características.
Para Michel Foucalt, o conceito de psicopata é historicamente demarcado, surgindo com a ascensão da burguesia. Segundo ele, o conceito de psicopata implica dobrar o delito com a criminalidade. Com isso o exame psiquiátrico busca: “[...] toda uma série de outras coisas que não são o delito mesmo, mas uma série de comportamentos, de maneiras de ser que, bem entendido, no discurso do psiquiatra, são apreendidas como a causa, a origem, a motivação, o ponto de partida do delito”. Pesquisar as causas do delito não fazia sentido até o fim do período monárquico, em que não havia equivalência entre a pena e o dano produzido. O crime nessa época não atingia os interesses da sociedade, não representava uma quebra do pacto social. Por menor que fosse, representava uma insurreição contra o soberano. Já o crime monstruoso era anulado em rituais de Soberania, que reconstituía em detalhes e com mais perversidade o próprio ato criminoso, anulando-o. Daí afirmar Foucaut que, no período monárquico: “[...] não há mecânica do crime que seria da alçada de um saber possível; não há mais que uma estratégia de poder, que exibe sua força em torno e a propósito do crime”. Prova disso é que a criminologia surgiu apenas entre o fim do século XIX e começo do século XX.
O conceito de Psicopata foi criado sob uma aparente racionalidade, para satisfazer os interesses da burguesia. Para Foucalt, a burguesia não apenas ascendeu ao poder. Mas inaugurou uma nova forma de exercê-lo. Segundo ele, essa nova arqueologia permitiu a um só tempo: “[...] majorar os efeitos do poder, diminuir o custo do exercício do poder e integrar o exercício do poder aos mecanismos de produção”. Tudo isso sob uma aparente racionalidade das instituições. O ideal de que a pena deveria corresponder aos danos causados à sociedade permitia economizar despesas com a punição. O atestado de psicopatia permitia aumentar os efeitos do poder, pois punia o criminoso por atos cometidos bem antes do crime e sem qualquer relação aparente com ele, em clara ofensa ao princípio da legalidade. Afinal, como alerta Foucalt, lei nenhuma proibia ser o indivíduo imoral ou amar mais a si que aos outros. O conceito de psicopata seria uma técnica de normalização, a imposição de um padrão ético de conduta. A psiquiatria estava avançada, nessa época, e se sabia que os laudos psiquiátricos indicando uma personalidade voltada ao crime eram fajutos, risíveis, grotescos. Foucalt demonstra casos em que a psicopatia era afirmada a partir do gosto do criminoso por jogos e automóveis. Não é coincidência que o homem normal seja conveniente ao burguês. Ele se casa antes dos 30 anos, tem filhos, constitui família e é feliz como empregado.
Como foi possível que a psicopatia se infiltrasse no Judiciário, já que esse conceito atenta contra o princípio da legalidade, outro ideal burguês? A ideia de colocar um psiquiatra para constatar a psicopatia dava autoridade ao laudo, pouco importando o grau de certeza científica da afirmação. Por outro lado, o ideal burguês do princípio da persuasão racional das decisões judiciais permitia que os juízes desprezassem o laudo, decidindo a normalidade do réu a partir de sua convicção pessoal. Na verdade, sempre homologavam o parecer técnico do Psiquiatra. No entanto, o sistema permitia a inserção de um médico que seria ao mesmo tempo, nas palavras de Foucalt, médico-juiz, sem tirar o poder do Juiz de Direito. A afronta à legalidade, ao punir o criminoso por atos anteriores ao delito, estava justificada pela aparente racionalidade do laudo médico, proveniente de um saber relacionado às ciências naturais.
Atualmente, a psicopatia também tem servido aos interesses dos donos do poder. O conceito de psicopata ganhou autonomia jurídica. Com isso, o médico-juiz sai de cena e o Juiz de Direito passa a determinar por si só quem é psicopata. No Código Penal (art. 59), o juiz deve determinar a pena-base para o delito, devendo considerar para efeito de cálculo a personalidade voltada ao crime. Isso permitirá estigmatizar o autor do crime, etiquetá-lo na linguagem do labelling aproach (moderna escola criminológica). Considerar o autor do crime um anormal também fundamenta o caráter reeducativo da pena, sua função corretiva (prevenção especial). O que implica, na prática, punir o criminoso além dos danos causados. Sem contar que a etiqueta é feita sob o molde burguês. Isso permite estabelecer um benefício aos burgueses incompetentes, que são presos em suas empreitadas. Os criminosos do “colarinho branco”, por exemplo, não tem sua pena aumentada por suposta personalidade voltada ao crime. Eles não são supostamente perigosos, pois convivem integrados à sociedade. Por outro lado, os psiquiatras passam a utilizar o termo psicopatia no próprio consultório. Angariam novos clientes. Antes, apenas os loucos, agora também os anormais.
Aproximar o criminoso da população por meio da negação da ideia de amor-erótico desvinculado da posse e da psicose não implica considerar todos criminosos potenciais. Segundo Freud, o interesse do povo pelas notícias sobre crimes se justifica a partir da identificação entre os instintos do criminoso e os do resto da massa. A moral não destrói esses instintos, que ficam presos no inconsciente, como afirmado. No entanto, isso não impede que a internalização da moral religiosa ou de outros subsistemas sociais signifique para o indivíduo a disposição eterna de não cometer crimes ou determinado tipo de crime. O que não se pode é etiquetá-lo como impotente para a prática de crimes. Isso seria utilizar o conceito de psicopata ao reverso, pois teríamos que avaliar o sujeito a partir de suas ações bondosas, já que sua mente é impenetrável.

Terapia contra a obesidade

Quem restringe sua alimentação com dietas fica mais propenso a se tornar um obeso, não importando seu peso atual.
Esse fato se explica por duas reações humanas diante de uma privação alimentar.
A primeira é que a restrição de alimentos leva a um excesso alimentar subsequente, que leva o indivíduo a não só recuperar o peso perdido, como a consumir calorias que o levem a uma elevação do peso inicial.
A segunda reação é que a privação temporária de alimentos diminui a taxa metabólica, reduzindo o gasto de calorias. A cada surto de dieta, o corpo reduz ainda mais sua taxa metabólica, tornando-se cada vez mais difícil alcançar o objetivo da perda definitiva de peso.
Uma resposta adaptativa dos seres humanos diante da experiencia de privação de alimentos é armazenar no organismo tanto alimento quanto possível e a diminuição do gasto calórico.
Para perda de peso é preciso um programa de exercícios e um conjunto permanente de hábitos alimentares. Em muitos casos, um acompanhamento psicólogico se torna necessário, visto que muitas pessoas tendem a comer mais em situações de ansiedade. Um vício de comportamento e cognição em responder à todas situações provocadoras de ansiedade com o ato de Comer. No trabalho terapêutico o paciente passa por um trabalho de conscientização das situações que o levam a comer em excesso para depois mudar as condições associadas a isso, para assim compensarem a si mesmos com comportamento alimentar apropriado. O tratamento terapêutico tem atingido melhores resultados principalmente no pós redução de peso, em que os pacientes dificilmente voltam a engordar. Isso acontece porque o paciente atribui a perda de peso a seus próprios esforços, ao contrário daqueles que fazem uso de medicação, por exemplo.

Por Josiane Rodrigues

Anorexia e Bulimia Nervosa - Quem são os anoréxicos e os bulímicos?

São pessoas com auto-estima rebaixada, que sofrem de intensa distorção da imagem corporal e sentimentos de desesperança. Evidenciam a preservação da capacidade intelectual – enquanto potencial, apesar da impossibilidade de utilização eficiente de todos os recursos cognitivos-racionais devido à invasão dos afetos, gerando acentuado sentimento de ineficiência. O controle de impulsos dos pacientes é deficitário, podendo ocorrer episódios de auto e hetero agressividade, que colocam em risco tanto a própria integridade física como das pessoas do ambiente circundante.
Essa configuração da organização afetiva, além de interferir no aproveitamento pleno dos recursos intelectuais, acaba prejudicando também a qualidade dos relacionamentos interpessoais, que são temidos e marcados pelo desejo de aprovação e extrema insegurança.
Devido aos intensos conflitos psicológicos experimentados, o relacionamento com as figuras parentais aparece permeado por marcada ambivalência emocional, prejudicando o processo de individuação e separação psicológica em relação aos pais, o que remete às questões de autonomia versus independência como uma tarefa ainda não elaborada. A falta de elaboração dos conflitos psíquicos vivenciados na internalização das imagos parentais compromete a consolidação da identidade pessoal. Em decorrência da frágil estrutura egóica, em situações de maior vulnerabilidade psíquica os pacientes com transtornos alimentares recorrem a movimentos regressivos, na tentativa de se defenderem de vivências catastróficas de dispersão e perda dos limites da própria identidade. Isso se manifesta na tenacidade com que tentam preservar um padrão de relacionamento infantil com seus pais, agarrando-se a vínculos simbióticos – uma fusão eu-outro mortífera, que embaralha as fronteiras que definem a subjetividade – obstruindo os movimentos expansivos que normalmente impulsionam o adolescente na rota do crescimento emocional.
É bastante freqüente que esses pacientes, no início do tratamento, acentuem uma tendência a negar a existência da doença, associando o transtorno alimentar a um estilo de vida excêntrico, porém válido, resultante de uma opção consciente a qual eles alçaram de forma deliberada, após examinarem várias alternativas. Abraçados aos seus sintomas sentem-se, inclusive, diferenciados da maioria dos mortais, uma vez que se consideram dotados de um estilo peculiar de levar a vida. Conseqüentemente, mostram-se em geral refratários ao tratamento ou, quando menos questionadores, apresentam uma aderência superficial ao esquema terapêutico proposto.
Essa atitude de reserva em relação ao atendimento em geral reflete-se em uma atitude de desconfiança – que por vezes se traduz em manifestações de franca hostilidade e explosividade no relacionamento com algum profissional da equipe. Contudo, com a evolução do tratamento e o fortalecimento do vínculo com a psicóloga, tendem a reconhecer a necessidade de atenção especializada, embora uma parcela de pacientes ainda permaneça ambivalente em relação ao atendimento, guardando uma atitude defensiva de aparente indiferença e calculado distanciamento emocional. Na medida em que a desconfiança foi abrandada e outras experiências emocionais abriram caminho para que se criassem condições para um relacionamento amistoso, pôde-se perceber uma maior permeabilidade aos afetos. O que sugere que esses pacientes podem se beneficiar de um tipo de psicoterapia que favoreça o exame do estado emocional vivenciado no aqui-e-agora, possibilitando assim uma experiência emocional corretiva.


Fonte: http://www.fmrp.usp.br/revista/2006/vol39n3/6_perfil_psicologico.pdf


Homofobia

A palavra homofobia significa a repulsa ou o preconceito contra a homossexualidade e/ou o homossexual. Esse termo teria sido utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos em meados dos anos 70 e, a partir dos anos 90, teria sido difundido ao redor do mundo.  


Podemos entender a homofobia, assim como as outras formas de preconceito, como uma atitude de colocar a outra pessoa, no caso, o homossexual, na condição de inferioridade, de anormalidade, baseada no domínio da lógica heteronormativa, ou seja, da heterossexualidade como padrão, norma. A homofobia é a expressão do que podemos chamar de hierarquização das sexualidades. Todavia, deve-se compreender a legitimidade da forma homossexual de expressão da sexualidade humana.

No decorrer da história, inúmeras denominações foram usadas para identificar a homossexualidade, refletindo o caráter preconceituoso das sociedades que cunharam determinados termos, como: pecado mortal, perversão sexual, aberração.

Outro componente da homofobia é a projeção. Para a psicologia, a projeção é um mecanismo de defesa dos seres humanos, que coloca tudo aquilo que ameaça o ser humano como sendo algo externo a ele.
Assim, o mal é sempre algo que está fora do sujeito e ainda, diferente daqueles com os quais se identifica.

Por exemplo, por muitos anos, acreditou-se que a AIDS era uma doença que contaminava exclusivamente homossexuais. Dessa forma, o “aidético” era aquele que tinha relações homossexuais. Assim, as pessoas podiam se sentir protegidas, uma vez que o mal da AIDS não chegaria até elas (heterossexuais). A questão da AIDS é pouco discutida, mantendo confusões como essa em vigor e sustentando ideias infundadas. Algumas pesquisas apontam ainda para o medo que o homofóbico tem de se sentir atraído por alguém do mesmo sexo. Nesse sentido, o desejo é projetado para fora e rejeitado, a partir de ações homofóbicas.

Assim, podemos entender a complexidade do fenômeno da homofobia que compreende desde as conhecidas “piadas” para ridicularizar até ações como violência e assassinato. A homofobia implica ainda numa visão patológica da homossexualidade, submetida a olhares clínicos, terapias e tentativas de “cura”.

A questão não se resume aos indivíduos homossexuais, ou seja, a homofobia compreende também questões da esfera pública, como a luta por direitos. Muitos comportamentos homofóbicos surgem justamente do medo da equivalência de direitos entre homo e heterossexuais, uma vez que isso significa, de certa maneira, o desaparecimento da hierarquia sexual estabelecida, como discutimos.

Podemos entender então que a homofobia compreende duas dimensões fundamentais: de um lado a questão afetiva, de uma rejeição ao homossexual; de outro, a dimensão cultural que destaca a questão cognitiva, onde o objeto do preconceito é a homossexualidade como fenômeno, e não o homossexual enquanto indivíduo.

Em maio de 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade da união estável entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. A decisão retomou discussões acerca dos direitos da homossexualidade, além de colocar a questão da homofobia em pauta.

Apesar das conquistas no campo dos direitos, a homossexualidade ainda enfrenta preconceitos. O reconhecimento legal da união homoafetiva não foi capaz de acabar com a homofobia, nem protegeu inúmeros homossexuais de serem rechaçados, muitas vezes de forma violenta.

Juliana Spinelli Ferrari

Fobias

O medo é um sentimento inerente ao ser humano, pode ser definido como uma sensação de que algo ruim pode acontecer seguido de sintomas físicos que incomodam, ou como um sentimento vivenciado diante do perigo. Quando esse medo é excessivo e irracional em relação à ameaça, apresentando fortes sinais de perigo e acompanhado de comportamento de evitação quanto às situações causadoras do medo, é chamado de fobia, crise de pânico provocada em situações específicas.

A fobia é um dos transtornos de ansiedade mais apresentados pelo ser humano e um dos distúrbios psicológicos mais estudados.

Fobia origina-se do grego phobia, que significa medo intenso, ou irracional, aversão, hostilidade.

Os três tipos básicos de fobias são: a agorafobia, a fobia social, as fobias específicas.

Os sintomas são: transpiração excessiva, taquicardia, náusea, vertigem, calafrios, dor no peito, sensação de falta de ar e formigamento.

Muitos neurocientistas explicam que a causa da fobia pode estar relacionada com fatores biológicos, como um aumento do fluxo sanguíneo e maior metabolismo no lado direito do cérebro em pessoas fóbicas.

FOBIA SOCIAL
A fobia social é um transtorno caracterizado por ansiedade intensa gerada quando a pessoa é submetida a situações nas quais são avaliadas por outras pessoas. Ansiedade que, como em outras fobias, pode ser experimentada de várias formas, como inquietação, estado de pânico ou reações físicas como suor intenso nas mãos, aceleração dos batimentos cardíacos, tremor nas mãos e falta de ar.

A ansiedade própria da fobia social pode ser identificada a partir de duas características essenciais: necessidade de sair rapidamente da situação e o reconhecimento que o medo é irracional.

A pessoa sente medo excessivo em várias situações sociais, como falar, escrever, comer, usar sanitários públicos, praticar exercícios físicos em público. Situações essas que podem ser enfrentadas com intensa ansiedade e sofrimento ou serem evitadas, influenciando assim, na vida social, profissional e afetiva.

O diagnóstico é clínico, a partir do relato dos sintomas apresentados. O tratamento é feito com antidepressivos associados à psicoterapia.

AGORAFOBIA
A agorafobia é o medo apresentado diante de uma multidão e em lugares abertos. Essencialmente, a agorafobia pode ser explicada pelo próprio medo de ter medo, de sentir mal em um desses locais e não conseguir sair, e não o medo do lugar em si.

A pessoa que sente agorafobia vivencia uma ansiedade classificada como antecipatória, o medo e a sensação de mal estar podem ser tão fortes a ponto de ocasionar um episódio de pânico. Ansiedade essa, que pode aparecer sempre em lugares como: festas, ônibus lotado, pontes, filas, trem ou automóvel.

A agorafobia pode influenciar na qualidade de vida da pessoa que a experimenta, levando-a a comportamentos de fuga diante de lugares que podem provocar medo e mal-estar. Sendo assim, as atividades simples do dia-a-dia como ir ao shopping, ao supermercado, passam a ser difíceis e necessitam sempre de um acompanhante, devido ao receio de passar mal e não ter alguém próximo para prestar socorro.

Conseqüentemente isso pode provocar um isolamento, fazendo com que a pessoa se sinta bem somente em casa, porém é interessante ressaltar que esse isolamento não se remete à fobia social, já que nesse quadro o receio é do julgamento alheio e em caso de agorafobia o medo é de não ter ninguém próximo caso a pessoa passe mal.

Os comportamentos variam muito de pessoa para pessoa. Algumas dessas manifestações podem estar presentes, sem que esse seja um quadro de agorafobia e necessite de ajuda.

O tratamento farmacológico é recomendado, esse consiste na remissão total dos sintomas, através da medicação adequada. A psicoterapia aborda os sintomas fóbicos e a ansiedade antecipatória.

FOBIAS ESPECÍFICAS
Hidrofobia por exemplo, é o medo da água. É comum o medo moderado de águas profundas, acompanhado do medo de afogamento, já o medo doentio é designado como hidrofobia. Essa pode ter origem na infância, relacionada a algum trauma ocorrido com líquidos. Pode desaparecer na puberdade ou ser prolongada até a fase adulta.

A hidrofobia não é medo da água propriamente dito, e sim o medo do afogamento. Grande parte das pessoas que apresentam hidrofobia não sabem nadar.
Dentro da psicologia, é classificada como fobia específica do subtipo ambiente natural. A fobia específica tem como característica essencial o medo intenso e persistente de situações claramente discriminadas, como é o caso do medo presente em situações do ambiente natural como a água.
Existem outras fobias por coisas específicas como palhaço, cobra, trovão, seringa, etc.


ACROFOBIA
Estar perto de um lugar alto, como por exemplo, um precipício, pode ocasionar medo de escorregar, cair, esse é um medo compreensível, já que se trata de um perigo real.

O medo torna-se irracional quando surge em situações nas quais o indivíduo se encontra em locais altos e protegidos por vidros ou grades, como os prédios. A pessoa com fobia de altura reage com medo diante dessas circunstâncias, sente tontura e não consegue olhar para baixo.

As situações que ocasionam o medo são várias, como: escadas rolantes, edifícios altos, ladeiras.

Indivíduos que sofrem de fobia de altura ou acrofobia podem se acostumar com determinados locais altos, perdendo o medo desses lugares, porém vivenciará o medo novamente diante de outro lugar alto.

Pessoas que sofrem de acrofobia podem ter um ataque de pânico quando estão em um lugar alto e não vêem uma forma de sair dele.

Por Patrícia Lopes

Codependência


Codependentes são esses familiares, normalmente cônjuge ou companheira(o), que vivem em função da pessoa problemática, fazendo desta tutela obsessiva a razão de suas vidas, sentindo-se úteis e com objetivos apenas quando estão diante do dependente e de seus problemas. São pessoas que têm baixa auto-estima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente.
O que parece ficar claro é que os codependentes vivem tentando ajudar a outra pessoa, esquecendo, na maior parte do tempo, de cuidar de sua própria vida, auto-anulando sua própria pessoa em função do outro e dos comportamentos insanos desse outro. Essa atitude patológica costuma acometer mães (e pais), esposas (e maridos) e namoradas(os) de alcoolistas, dependentes químicos, jogadores compulsivos, alguns sociopatas, sexuais compulsivos, etc.
O Codependente é Atado na pessoa problema
A codependência se manifesta de duas maneiras: como um intrometimento em todas as coisas da pessoa problema, incluindo horário de tomar banho, alimentação, vestuário, enfim, tudo o que diz respeito à vida do outro. Em segundo, tomando para si as responsabilidades do outra pessoa. Evidentemente, ambas atitudes propiciam um comportamento mais irresponsável ainda por parte da pessoa problemática.
O codependente almeja ser, realmente, o salvador, protetor ou consertador da outra pessoa, mesmo que para isso ele esteja comprovadamente prejudicando e agravando o problema do outro.
Como se nota, o problema do codependente é muito mais dele próprio do que da pessoa problemática e, normalmente, a nobre função do codependente depende da capacidade de ajudar ou salvar a outra pessoa, que sempre é transformada em vítima e não responsável pelos próprios problemas.

Sintomas da Codependência
A codependência é uma condição específica que se caracteriza por uma preocupação e uma dependência excessivas (emocional, social e a vezes física), de uma pessoa em relação à outra, reconhecidamente problemática. Em pouco tempo o codependente começa a achar que ninguém apóia a pessoa problema (como ele), que ambos são incompreendidos, ele e a pessoa problemática, ambos não recebem o apoio merecido, etc.

A pessoa codependente não sabe se divertir normalmente porque leva a vida demasiadamente a sério, parecendo haver um certo orgulho em carregar tamanha cruz, em suportar as ofensas, humilhações e frustrações. Como ele precisa desesperadamente da aprovação dos demais, porque no fundo ele mesmo sabe que está exagerando em seus cuidados com a pessoa problemática, procura ter complacência e compreensão com todos por uma simples questão de reciprocidade (quer que os outros também entendam o que está fazendo).
A codependência se caracteriza por uma série de sintomas e atitudes mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa, tais como:
1. - Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro
2. - Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o codependente mantém-se com a serenidade própria dos mártires.
3. - Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um perfeccionismo que, na realidade ele queria que a pessoa problemática tivesse.
4. - Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre super solícito com quase todos (assim ele justificaria que sua solicitude não é apenas com a pessoa problemática).
5. - Condutas pseudo-compulsivas. Se o codependente paga as dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez isso”, diz que não consegue se controlar.
6. – Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também pela conduta dos outros.
7. - Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório.
8. – Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua.
9. – Baixa autoestima.
10. - Dependência da aprovação externa, até por uma questão da própria auto-estima.
11. - Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como somatização da ansiedade.
12. - Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e conflito.
13. - Depressão. Resultado final
Parece um nobre empenho ajudar a outras pessoas que se estão se autodestruindo, como no caso dos alcoolistas ou dependentes químicos, do jogo ou do sexo compulsivos. Entretanto, se quem ajuda se esquece de si mesmo, se entrega à vida da outra pessoa problemática, então estamos diante da Codependência. A dor na codependência é maior que o amor que se recebe e se uma relação humana resulta prejudicial para a saúde física, moral ou espiritual, ela deve ser desencorajada.
Na realidade a codependência é uma espécie de falso-amor, uma vez que parece ser destrutivo, tendo em vista que pode agravar o problema em questão, seja a dependência química, alcoolismo, transtornos de personalidade, etc. Todo amor que não produz paz, mas sim angústia ou culpa, está contaminado de codependência, é um amor patológico, obsessivo é bastante destrutivo. Ao não produzir paz interior nem crescimento espiritual, a codependência cria amargura, angustia e culpa, obviamente, ela não leva à felicidade. Então, vendo desse jeito, a codependência aparenta ser amor, mas é egoísmo, medo da perda de controle, da perda da relação em si.
Disfunção Familiar
Na família da pessoa problemática as relações familiares e a comunicação interpessoal vão se tornando cada vez mais complicadas. A comunicação se faz mais confusa e indireta, de modo que é mais fácil encobrir e justificar a conduta do dependente do que discuti-la. Esta dificuldade (disfunção) vai se convertendo em estilo de vida familiar e produzindo, em muitos casos, o isolamento da família dos contatos sociais cotidianos. As regras familiares se tornam confusas, rígidas e injustas para seus membros, de forma que os deveres passam a ser distorcidos, com algum prejuízo das pessoas que não têm problemas e privilégios da pessoa problemática.
Como se vê, a conduta codependente é uma resposta doentia ao comportamento da pessoa problemática, e se converte em um fator chave na evolução da dependência, isto é, a codependência promove o agravamento da situação da pessoa problemática, processo chamado de facilitação. Mas, os codependentes não se dão conta de que estão facilitando o agravamento do problema, em parte pela negação e em parte porque estão convencidos de que sua conduta esta justificada, uma vez que estão “ajudando” o dependente a não se deteriorar ainda mais e que a família não se desintegre.
Costuma ser mais freqüente do que se pensa, as pessoas codependentes buscarem ajuda médica, porém, sem que tenham crítica de tratar-se de codependência. Antes disso, essas pessoas se queixam de depressão ou simplesmente de estresse.
Os profissionais de saúde que trabalham na área de dependências, correm sempre o risco de desenvolver codependência como resultado da exposição crônica à dependência dos pacientes.
As manifestações dessa codependência profissional são muito variadas, podendo dizer respeito à assumir franca e pesada responsabilidade pelo dependente, protege-lo das conseqüências de suas decisões, e dar-lhe sermões repetitivos, enfim, assumir atitudes que ultrapassam as funções do profissional.
Quando acontece a codependência em profissionais da área (médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, pessoal da enfermagem), normalmente não há uma crítica imediata da situação, senão a sensação de que todas as atitudes objetivam genuinamente ajudar o paciente. Entretanto, a codependência está longe de ajudar, sendo mais provável um agravamento da dependência ou uma facilitação.

Recuperação da CodependênciaOs profissionais acham que o primeiro passo em direção a esta mudança é tomar consciência e aceitar o problema.
O tratamento da codependência pode consistir de psicoterapia, grupos de auto ajuda, terapia familiar e em alguns casos, antidepressivos e ansiolíticos. Os grupos de auto ajuda para familiares de dependentes, tais como, Alanom e Codependentes Anônimos são de grande utilidade no processo de recuperação familiar da codependência.
Segundo Neliana Buzi Figlie, psicóloga, especialista em dependência química, a fase I tem como objetivo o dependente a atingir a abstinência. Ao pensar no modelo de doença, nesta fase é trabalhado o conceito de co-dependência. O referencial comportamental trabalha com a perspectiva de visualizar comportamentos do cônjuge que reforcem o comportamento aditivo, almejando a substituição por comportamentos que reforcem a sobriedade.
Na fase II, ainda segundo Neliana Buzi Figlie, o foco é identificar padrões disfuncionais na família como um todo, tanto na família de origem, quanto da família de procriação. Nesta fase é importante retomar rituais familiares e conforme o grau de dificuldade, o encaminhamento para uma psicoterapia familiar especializada pode ser realizado.
A fase III é definida como uma nova fronteira no tratamento da dependência química, sendo uma das áreas menos exploradas e talvez uma das mais controversas. Muito tempo após a cessação do consumo de substâncias, alguns relacionamentos continuam desgastados. Nesta fase o tratamento tem como meta aumentar a intimidade do casal e a participação de ambos no processo é fundamental.
para referir:
Ballone GJ - Codependência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2006

Compulsão por Compras

Em casos extremos, a compulsão por comprar pode se tornar patológica. A pessoa que sofre dessa compulsão sente uma forte ansiedade que só é aliviada no momento da compra. É como se ela preenchesse um vazio.
O problema é que passado algum tempo da compra vem o sentimento de remorso e decepção por não conseguir controlar o impulso. E pior ainda, como uma atitude compensatória, o mal-estar causado pela compra leva a pessoa a comprar de novo e isso se torna um ciclo vicioso.
Muitas dessas mercadorias nem se quer são usadas. O importante não é o objeto em si, mas sim a sensação de bem-estar que o fato de comprar proporciona. Muitas pessoas só percebem que de fato estão doentes e que precisam de ajuda quando estão totalmente endividadas. E quando isso acontece ela se sente impotente e envergonhada por não conseguir controlar o impulso, o que faz com que o problema seja mantido em segredo, agravando ainda mais a situação.
É importante salientar que nem todos que gostam de fazer compras estão realmente doentes. Algumas pessoas estão mais propensas que outras a desenvolver esse transtorno. Uma característica importante apontada pelas pesquisas é que pessoas que não estão inseridas em um grupo social, seja no trabalho, na família ou na igreja tem maior possibilidade de desenvolver algum tipo de dependência, seja por compras, jogos, sexo ou internet.
Muitas pessoas recorrem (mesmo que inconscientemente) às compras como forma de sanar angústias, raiva, ansiedade, tédio e pensamento de desvalorização pessoal. Em alguns casos, se tratam de pessoas que tiveram pais ausentes e que compensavam a negligência com presentes, embora não se possa dizer que essa é a causa da doença.
Em outros casos, pais que passaram por dificuldades financeiras na infância tentam, na melhor das intenções, dar a seus filhos tudo que não tiveram e assim eles aprendem que comprar pode ser a solução para muitos problemas. Isso pode comprometer a noção de limites e torná-las adultos incapazes de lidar com a frustração e consequentemente recorrer às compras com essa finalidade.
Portanto, não podemos esquecer que a compulsão por compras pode sim ser uma doença e que é preciso procurar tratamento antes que a situação se agrave ainda mais.  Além disso, é preciso que os pais imponham limites para os filhos desde muito cedo e que estejam presentes em suas vidas não só financeiramente , mas principalmente, afetivamente.
Fonte: Revista Mente e Cérebro, ano XVII, nº 203, dezembro de 2009.

A lei proibe alienar um parente

Você sabia que agora é proibido legalmente alienar um parente? A lei pune pais e mães que tentam colocar seus filhos contra o ex-parceiro, comportamento conhecido como alienação parental. A nova legislação prevê multa, a ser definida pelo juiz, acompanhamento psicológico ou perda da guarda da criança. Diante de uma denúncia de alienação parental, o juiz deverá pedir um laudo psicológico para verificar se a criança está, de fato, sofrendo manipulação. Segundo a lei, se for verificada a veracidade das acusações, o juiz poderá “ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado, estipular multa ao alienador, determinar acompanhamento psicológico ou determinar a alteração da guarda do menor”. De acordo com a lei, alienação parental ocorre quando há “interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie o genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. Entre os atos que podem ser classificados como alienação está dificultar o contato da criança com o genitor, omitir dele “informações relevantes” sobre o menor e apresentar falsas denúncias sobre parentes da criança. Fonte: psicologiaereflexao.wordpress.com

Adolescência Normal

Essa etapa é marcada por três tipos de luto: do corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância. Apresento a seguir algumas das principais características comuns da adolescência retiradas do livro “Adolescência Normal: Um Enfoque Psicanalítico”, escrito por Arminda Aberastury e Maurício Knobel. 1. Busca de si mesmo e da identidade Não podemos falar da adolescência sem mencionar as mudanças corporais que ocorrem nesse período e a percepção que o indivíduo tem desse “novo” corpo. O esquema corporal é definido como a representação mental que o sujeito tem do próprio corpo, como conseqüência das suas experiências em contínua evolução. Nesse sentido, é de fundamental importância a forma como é elaborado o luto pelo corpo da infância, pois haverá uma modificação desse esquema corporal e do conhecimento que o indivíduo tem do próprio corpo, à partir dessas mudanças. O grupo de amigos, a família e a sociedade em geral têm um papel muito importante nesse processo de formação da identidade porque é a partir das concepções que os outros tem dele que o adolescente vai formando seu autoconceito. Concomitantemente a essa percepção que os outros tem dele, o adolescente vai formando o sentimento de identidade, numa verdadeira experiência de autoconhecimento. Nesta busca pela identidade, o adolescente muitas vezes prefere o caminho mais fácil, fazendo identificações maciças com o grupo. Em outras situações ele opta por uma “identidade negativa”, já que para ele, “é preferível ser alguém perverso, indesejável, a não ser nada” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 32). Além disso, devido às rápidas mudanças corporais que ocorrem nesse período, surge um sentimento de estranhamento em relação ao próprio corpo. O tipo de relação que estabeleceu com os pais na infância desempenha papel fundamental diante dessas mudanças. Quando a relação tiver sido boa, a mesma permitirá uma melhor elaboração dessas mudanças tão difíceis para o adolescente. 2. Tendência grupal Outra característica bastante marcante da adolescência é a tendência grupal. Na busca pela identidade, os adolescentes se juntam em busca de uniformidade, que trás uma certa segurança e estima pessoal. Nesse processo, há uma identificação em massa em que todos se identificam com cada um. Segundo Aberastury e Knobel, em alguns casos esse processo é tão intenso que a separação do grupo se torna algo impossível. O adolescente se sente mais pertencente ao grupo de coletâneos do que ao grupo familiar. “Em outro nível, as atuações do grupo e dos seus integrantes representam a oposição às figuras parentais e uma maneira ativa de determinar uma identidade diferente da do meio familiar” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 37). Nesse sentido, se transfere para o grupo grande parte da dependência que antes era da família, principalmente dos pais. “O grupo constitui assim a transição necessária no mundo externo para alcançar a individualidade adulta” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 37). Depois de passar por essa experiência grupal, aí sim poderá o indivíduo se distanciar da turma e assumir sua identidade adulta. 3. A necessidade de intelectualizar e fantasiar Segundo Aberastury e Knobel, “a necessidade de intelectualizar e fantasiar acontece como uma das formas típicas de pensamento do adolescente” (1989, p. 38). Ele recorre ao pensamento como uma forma de compensar as perdas que ocorrem dentro de si e que ele não pode controlar, como a perda do corpo infantil, dos pais da infância e da bissexualidade que acompanha a identidade infantil. Nesse sentido, a intelectualização e a fantasia servem como mecanismos de defesa diante de todas essas mudanças. 4. As crises religiosas Em relação à religião, o que se pode observar é que o adolescente tende a adotar posições extremas: pode se manifestar como um ateu exacerbado ou como um místico muito fervoroso. Entre essas duas posições, apresentam-se mudanças freqüentes, oscilando entre uma e outra. Aberastury e Knobel colocam que essas oscilações são “tentativas de soluções da angústia que vive o ego na sua busca de identificações positivas e do confronto com o fenômeno da morte definitiva de uma parte do seu ego corporal. Além disso, começa a enfrentar a separação definitiva dos pais e também a aceitação da possível morte dos mesmos” (1989, p. 40). Muitas vezes acreditar na divindade da religião pode representar uma saída mágica. Por outro lado, quando as situações de frustração foram muito intensas, refugiar-se em uma atitude excessivamente ateísta pode representar uma atitude compensadora e defensiva. 5. A deslocalização temporal Segundo Aberastury e Knobel, o adolescente vive uma certa deslocalização temporal, convertendo o tempo em presente e ativo, numa tentativa de manejá-lo. Para o adolescente tudo é urgente e as postergações são aparentemente irracionais. Para Aberastury e Knobel, essa negação do tempo funciona como uma defesa. “Quando se nega a passagem do tempo, pode-se conservar a criança dentro do adolescente como um objeto morto-vivo” (1989, p. 43). Os autores fazem ainda uma relação dessa negação com o sentimento de solidão, típico dos adolescentes. “Estes momentos de solidão costumam ser necessários para que fora possa ficar o tempo passado, o futuro e o presente, convertidos assim em objetos manejáveis” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 43). Segundo eles, essa capacidade de ficar só é um sinal de maturidade, que só é atingido após estas experiências de solidão, que se mostram adolescentes na adolescência. Aberastury e Knobel consideram que esta discriminação temporal é uma das tarefas mais importantes da adolescência, juntamente com a elaboração dos lutos típicos desse período. “Poder conceituar o tempo, vivenciá-lo como nexo de união, é o essencial, subjacente à integração da identidade” (1989, p. 44). 6. A evolução sexual desde o auto-erotismo até a heterossexualidade Neste processo de evolução sexual do auto-erotismo até a heterossexualidade observa-se uma oscilação permanente entre a atividade de caráter masturbatório e o começo do exercício genital. Nessa fase do desenvolvimento, o contato genital tem um caráter mais exploratório e preparatório do que uma verdadeira genitalidade procriativa, que deveria acontecer somente na vida adulta, com a capacidade de assumir o papel paternal. A forma como os pais lidam com a genitalidade da criança influenciará de maneira determinante na evolução genital do sujeito. Aberastury e Knobel colocam que é normal aparecerem momentos de predomínio de aspectos femininos no rapaz e masculinos na moça. Nesse sentido, os autores defendem que em muitos casos o adolescente experimenta relações homossexuais temporárias, o que não significa que ele seja homossexual. 7. Atitude social reivindicatória Para os autores, o adulto projeta no adolescente a sua incapacidade em controlar o que está acontecendo ao seu redor e tenta então diminuir, deslocalizar o adolescente. Muitas vezes o adolescente tem poucas possibilidades como, por exemplo, no mercado de trabalho e se vê obrigado a se adaptar, atendendo as necessidades que o mundo adulto o impõe. Em alguns casos a saída que o adolescente encontra diante de tantas dificuldades é o crime e a delinqüência. Para Aberastury e Knobel, “na medida em que o adolescente não encontre o caminho adequado para a sua expressão vital e para a aceitação de uma possibilidade de realização, não poderá jamais ser um adulto satisfeito” (1989, p. 54). 8. Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta Outra característica marcante do período da adolescência é a contradição. Segundo Aberastury e Knobel, “a conduta do adolescente está dominada pela ação, que constitui o modo de expressão mais típico nestes momentos de vida, em que até o pensamento precisa tornar-se ação para poder ser controlado. O adolescente não pode manter uma linha de conduta rígida, permanente e absoluta, ainda que muitas vezes o pretenda ou procure” (1989, p. 55) Além disso, predomina a contradição entre uma dependência e uma independência extremas. Segundo Aberastury e Knobel (1989), somente mais tarde, com a maturidade, o indivíduo poderá aceitar ser independente dentro de um limite necessário de dependência. Enquanto isso não acontece, prevalece a contradição, a ambivalência, a dor e as fricções com o meio familiar e social. 9. Separação progressiva dos pais Assim como o adolescente, a família também enfrenta o luto. O que determinada como se dará essa separação dos pais é o tipo de relação que se estabeleceu com os mesmos na infância. A internalização de boas figuras parentais, com papéis bem definidos, proporcionará uma boa separação dos pais, facilitando a passagem da adolescência para a maturidade (Aberastury e Knobel, 1989). Por outro lado, figuras parentais não muitos estáveis e sem papéis definidos podem ser vistas pelo adolescente como sem valor e obrigá-lo a procurar identificações com outras personalidades, muitas vezes de forma compensatória e idealizada. Essas figuras podem ser ídolos de diferentes tipos: esportivos, musicais, cinematográficos, etc. Em alguns casos a identificação pode ser tão forte que assume um caráter patológico, fazendo com que o adolescente comece a viver os papéis que atribui às figuras que se identificou (Aberastury e Knobel, 1989). 10. Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo É importante salientar que as constantes mudanças de humor são características normais da adolescência e fazem parte do processo de luto enfrentado nessa idade. No entanto, “a quantidade e a qualidade da elaboração dos lutos da adolescência determinarão a maior ou a menor intensidade desta expressão e destes sentimentos” (Aberastury e Knobel, 1989, p. 58). Referências: ABERASTURY, A. e cols. Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas. 1990. ABERASTURY, A.; KNOBEL. M. Adolescência Normal: Um Enfoque Psicanalítico. Tradução de BALLVE, S. M. G. Porto Alegre: Artes Médicas. 1989. Fonte: psicologiaereflexao.wordpress.com