São pessoas com auto-estima rebaixada, que sofrem de intensa distorção
da imagem corporal e sentimentos de desesperança. Evidenciam a preservação da capacidade intelectual – enquanto
potencial, apesar da impossibilidade de utilização eficiente de todos os
recursos cognitivos-racionais devido à invasão dos afetos, gerando acentuado sentimento
de ineficiência. O controle de impulsos dos pacientes é
deficitário, podendo ocorrer episódios de auto e hetero agressividade, que colocam
em risco tanto a própria integridade física como das pessoas do ambiente
circundante.
Essa configuração da organização
afetiva, além de interferir no aproveitamento pleno dos recursos intelectuais,
acaba prejudicando também a qualidade dos relacionamentos interpessoais, que
são temidos e marcados pelo desejo de aprovação e extrema insegurança.
Devido aos intensos conflitos
psicológicos experimentados, o relacionamento com as figuras parentais aparece permeado por
marcada ambivalência emocional, prejudicando o processo de individuação e
separação psicológica em relação aos pais, o que remete às questões de
autonomia versus independência como uma tarefa ainda não elaborada. A
falta de elaboração dos conflitos psíquicos vivenciados na internalização das
imagos parentais compromete a consolidação da identidade pessoal. Em
decorrência da frágil estrutura egóica, em situações de maior vulnerabilidade psíquica
os pacientes com transtornos alimentares recorrem a movimentos regressivos, na tentativa
de se defenderem de vivências catastróficas de dispersão e perda dos limites da
própria identidade. Isso se manifesta na tenacidade com que tentam preservar um
padrão de relacionamento infantil com seus pais, agarrando-se a vínculos
simbióticos – uma fusão eu-outro mortífera, que embaralha as fronteiras que definem
a subjetividade – obstruindo os movimentos expansivos que normalmente
impulsionam o adolescente na rota do crescimento emocional.
É bastante freqüente que esses pacientes, no
início do tratamento, acentuem uma tendência a negar a existência da doença,
associando o transtorno alimentar a um estilo de vida excêntrico, porém válido,
resultante de uma opção consciente a qual eles alçaram de forma deliberada,
após examinarem várias alternativas. Abraçados aos seus sintomas sentem-se,
inclusive, diferenciados da maioria dos mortais, uma vez que se consideram
dotados de um estilo peculiar de levar a vida. Conseqüentemente, mostram-se em
geral refratários ao tratamento ou, quando menos questionadores, apresentam uma
aderência superficial ao esquema terapêutico proposto.
Essa atitude de reserva em
relação ao atendimento em geral reflete-se em uma atitude de desconfiança – que
por vezes se traduz em manifestações de franca hostilidade e explosividade no
relacionamento com algum profissional da equipe. Contudo, com a evolução do
tratamento e o fortalecimento do vínculo com a psicóloga, tendem a reconhecer a
necessidade de atenção especializada, embora uma parcela de pacientes ainda
permaneça ambivalente em relação ao atendimento, guardando uma atitude
defensiva de aparente indiferença e calculado distanciamento emocional. Na medida em que a desconfiança foi
abrandada e outras experiências emocionais abriram caminho para que se criassem
condições para um relacionamento amistoso, pôde-se perceber uma maior
permeabilidade aos afetos. O que sugere que esses pacientes podem se beneficiar
de um tipo de psicoterapia que favoreça o exame do estado emocional vivenciado
no aqui-e-agora, possibilitando assim uma experiência emocional corretiva.
Fonte: http://www.fmrp.usp.br/revista/2006/vol39n3/6_perfil_psicologico.pdf
Fonte: http://www.fmrp.usp.br/revista/2006/vol39n3/6_perfil_psicologico.pdf