Codependentes são esses familiares, normalmente cônjuge ou
companheira(o), que vivem em função da pessoa problemática, fazendo
desta tutela obsessiva a razão de suas vidas, sentindo-se úteis e com
objetivos apenas quando estão diante do dependente e de seus problemas.
São pessoas que têm baixa auto-estima, intenso sentimento de culpa e não
conseguem se desvencilhar da pessoa dependente.
O que parece ficar claro é que os codependentes vivem tentando ajudar
a outra pessoa, esquecendo, na maior parte do tempo, de cuidar de sua
própria vida, auto-anulando sua própria pessoa em função do outro e dos
comportamentos insanos desse outro. Essa atitude patológica costuma
acometer mães (e pais), esposas (e maridos) e namoradas(os) de
alcoolistas, dependentes químicos, jogadores compulsivos, alguns
sociopatas, sexuais compulsivos, etc.
O Codependente é Atado na pessoa problema
A codependência se manifesta de duas maneiras: como um intrometimento
em todas as coisas da pessoa problema, incluindo horário de tomar
banho, alimentação, vestuário, enfim, tudo o que diz respeito à vida do
outro. Em segundo, tomando para si as responsabilidades do outra pessoa.
Evidentemente, ambas atitudes propiciam um comportamento mais
irresponsável ainda por parte da pessoa problemática.
O
codependente almeja ser, realmente, o salvador, protetor ou consertador da outra pessoa, mesmo que para isso ele esteja comprovadamente prejudicando e agravando o problema do outro.
Como se nota, o problema do codependente é muito mais dele próprio do que da pessoa problemática e, normalmente, a nobre função do codependente depende da capacidade de ajudar ou salvar a outra pessoa, que sempre é transformada em vítima e não responsável pelos próprios problemas.
Sintomas da Codependência
A codependência é uma
condição específica que se caracteriza por uma preocupação e uma
dependência excessivas (emocional, social e a vezes física), de uma
pessoa em relação à outra, reconhecidamente problemática. Em pouco tempo o codependente começa a achar que ninguém apóia a
pessoa problema (como ele), que ambos são incompreendidos, ele e a
pessoa problemática, ambos não recebem o apoio merecido, etc.
A pessoa codependente não sabe se divertir normalmente porque leva a
vida demasiadamente a sério, parecendo haver um certo orgulho em
carregar tamanha cruz, em suportar as ofensas, humilhações e
frustrações. Como ele precisa desesperadamente da aprovação dos demais,
porque no fundo ele mesmo sabe que está exagerando em seus cuidados com a
pessoa problemática, procura ter complacência e compreensão com todos
por uma simples questão de reciprocidade (quer que os outros também
entendam o que está fazendo).
A codependência se caracteriza por uma série de sintomas e atitudes
mais ou menos teatrais, e cheias de Mecanismos de Defesa, tais como:
1. - Dificuldade para estabelecer e manter relações íntimas sadias e normais, sem que grude muito ou dependa muito do outro
2. - Congelamento emocional. Mesmo diante dos absurdos cometidos pela pessoa problemática o codependente mantém-se com a serenidade própria dos mártires.
3. - Perfeccionismo. Da boca para fora, ou seja, ele professa um perfeccionismo que, na realidade ele queria que a pessoa problemática tivesse.
4. - Necessidade obsessiva de controlar a conduta de outros. Palpites, recomendações, preocupações, gentilezas quase exageradas fazem com que o codependente esteja sempre super solícito com quase todos (assim ele justificaria que sua solicitude não é apenas com a pessoa problemática).
5. - Condutas pseudo-compulsivas. Se o codependente paga as dívidas da pessoa problemática ele “nunca sabe bem porque fez isso”, diz que não consegue se controlar.
6. – Sentir-se responsável pelas condutas de outros. Na realidade ele se sente mesmo responsável pela conduta da pessoa problemática, mas para que isso não motive críticas, ele aparenta ser responsável também pela conduta dos outros.
7. - Profundos sentimentos de incapacidade. Nunca tudo aquilo que fez ou está fazendo pela pessoa problemática parece ser satisfatório.
8. – Constante sentimento de vergonha, como se a conduta extremamente inadequada da pessoa problemática fosse, de fato, sua.
9. – Baixa autoestima.
10. - Dependência da aprovação externa, até por uma questão da própria auto-estima.
11. - Dores de cabeça e das costas crônicas que aparecem como somatização da ansiedade.
12. - Gastrite e diarréia crônicas, como envolvimento psicossomático da angústia e conflito.
13. - Depressão. Resultado final
Parece um nobre empenho ajudar a outras pessoas que se estão se
autodestruindo, como no caso dos alcoolistas ou dependentes químicos, do
jogo ou do sexo compulsivos. Entretanto, se quem ajuda se esquece de si
mesmo, se entrega à vida da outra pessoa problemática, então estamos
diante da Codependência. A dor na codependência é maior que o amor que
se recebe e se uma relação humana resulta prejudicial para a saúde
física, moral ou espiritual, ela deve ser desencorajada.
Na realidade a codependência é uma espécie de falso-amor, uma vez que
parece ser destrutivo, tendo em vista que pode agravar o problema em
questão, seja a dependência química, alcoolismo, transtornos de
personalidade, etc. Todo amor que não produz paz, mas sim angústia ou
culpa, está contaminado de codependência, é um amor patológico,
obsessivo é bastante destrutivo. Ao não produzir paz interior nem
crescimento espiritual, a codependência cria amargura, angustia e culpa,
obviamente, ela não leva à felicidade. Então, vendo desse jeito, a
codependência aparenta ser amor, mas é egoísmo, medo da perda de
controle, da perda da relação em si.
Disfunção Familiar
Na família da pessoa
problemática as relações familiares e a comunicação interpessoal vão se
tornando cada vez mais complicadas. A comunicação se faz mais confusa e
indireta, de modo que é mais fácil encobrir e justificar a conduta do
dependente do que discuti-la. Esta dificuldade (disfunção) vai se
convertendo em estilo de vida familiar e produzindo, em muitos casos, o
isolamento da família dos contatos sociais cotidianos. As regras
familiares se tornam confusas, rígidas e injustas para seus membros, de
forma que os deveres passam a ser distorcidos, com algum prejuízo das
pessoas que não têm problemas e privilégios da pessoa problemática.
Como se vê, a conduta codependente é uma resposta doentia ao
comportamento da pessoa problemática, e se converte em um fator chave na
evolução da dependência, isto é, a codependência promove o agravamento
da situação da pessoa problemática, processo chamado de facilitação.
Mas, os codependentes não se dão conta de que estão facilitando o
agravamento do problema, em parte pela negação e em parte porque estão
convencidos de que sua conduta esta justificada, uma vez que estão “ajudando” o dependente a não se deteriorar ainda mais e que a família não se desintegre.
Costuma ser mais freqüente do que se pensa, as pessoas codependentes
buscarem ajuda médica, porém, sem que tenham crítica de tratar-se de
codependência. Antes disso, essas pessoas se queixam de depressão ou
simplesmente de estresse.
Os profissionais de saúde que trabalham na área de dependências,
correm sempre o risco de desenvolver codependência como resultado da
exposição crônica à dependência dos pacientes.
As manifestações dessa codependência profissional são muito variadas,
podendo dizer respeito à assumir franca e pesada responsabilidade pelo
dependente, protege-lo das conseqüências de suas decisões, e dar-lhe
sermões repetitivos, enfim, assumir atitudes que ultrapassam as funções
do profissional.
Quando acontece a codependência em profissionais da área (médicos,
psicólogos, terapeutas ocupacionais, pessoal da enfermagem), normalmente
não há uma crítica imediata da situação, senão a sensação de que todas
as atitudes objetivam genuinamente ajudar o paciente. Entretanto, a
codependência está longe de ajudar, sendo mais provável um agravamento
da dependência ou uma facilitação.
Recuperação da CodependênciaOs profissionais acham que o primeiro
passo em direção a esta mudança é tomar consciência e aceitar o
problema.
O tratamento da codependência pode consistir de psicoterapia, grupos
de auto ajuda, terapia familiar e em alguns casos, antidepressivos e
ansiolíticos. Os grupos de auto ajuda para familiares de dependentes,
tais como, Alanom e Codependentes Anônimos são de grande utilidade no
processo de recuperação familiar da codependência.
Segundo Neliana Buzi Figlie,
psicóloga, especialista em dependência química, a fase I tem como
objetivo o dependente a atingir a abstinência. Ao pensar no modelo de doença, nesta
fase é trabalhado o conceito de co-dependência. O referencial comportamental
trabalha com a perspectiva de visualizar comportamentos do cônjuge que
reforcem o comportamento aditivo, almejando a substituição por
comportamentos que reforcem a sobriedade.
Na fase II, ainda segundo Neliana Buzi Figlie, o foco é identificar
padrões disfuncionais na família como um todo, tanto na família de
origem, quanto da família de procriação. Nesta fase é importante retomar
rituais familiares e conforme o grau de dificuldade, o encaminhamento
para uma psicoterapia familiar especializada pode ser realizado.
A fase III é definida como uma nova fronteira no tratamento da
dependência química, sendo uma das áreas menos exploradas e talvez uma
das mais controversas. Muito tempo após a cessação do consumo de
substâncias, alguns relacionamentos continuam desgastados. Nesta fase o
tratamento tem como meta aumentar a intimidade do casal e a participação
de ambos no processo é fundamental.
para referir:
Ballone GJ - Codependência - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br, 2006