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Atendimento de Adolescentes, Adultos, Idosos. Sessão Individual, Casal e Familiar, em Consultório ou em Domicílio (para casos específicos). Orientação Psicológica Online via Skype.

O idoso e os asilos:

Sejam quais forem as circunstâncias da sua internação, o idoso experimenta uma realidade nova e, por vezes assustadora, tornando-se difícil elaborar de maneira tranqüila e equilibrada essa nova experiência. Somada a essa situação, no geral, a instituição não está preparada para serviços que respeitem a sua individualidade, personalidade, privacidade e modo de vida. A tendência é priorizar as necessidades fisiológicas (alimentação, vestuário, alojamento, cuidados de saúde e higiene) desprezando a especificidade da experiência de cada indivíduo. (Pimentel, 2001).
Na verdade, a maioria dos idosos afirma não “pertencer” aquele lugar.
O idoso, ao entrar para uma instituição, é levado a um mundo à parte, perde sua individualidade, entra aos poucos num processo de isolamento e deixa de existir.
O grupo com o qual trabalhei no Asilo apresentava os conflitos anteriormente teorizados. São pessoas que não se reconhecem num lar, desejam autonomia para dirigir suas vidas e tomar decisões. Enfim, desejam reconhecimento, respeito, e não um lugar de sujeitos dependentes, infantilizados e degredados em que são colocados dentro da instituição. Nela, eles não encontram espaço para expor suas idéias, suas vontades. Não têm espaço para liderar ou comandar nenhum projeto, seja ele pessoal ou não. Se tornam dependentes do desejo do outro (instituição), das regras e decisões do outro. Seus discursos, sofrimentos e reclamações afirmam-nos que continuam com sua identidade preservada. Que continuam com seus desejos, seus ideais e valores. Eles nos mostram a insatisfação que sentem com a situação e não uma total acomodação e aceitação que nos levaria a pensar em um possível desfacelamento de personalidade. Os idosos nos mostram que mesmo estando a mais de 10 anos enclausurados no ambiente asilar, eles têm valores conservados desde o tempo em que não eram idosos asilados.
Apesar disso, podemos perceber que mesmo que inconscientemente, os idosos auto-regulam os seus comportamentos, agindo de acordo com o quadro social em que foram colocados.
No asilo faltam atividades culturais que abram espaço para a construção de novas formas de subjetividade e trabalhem a auto-estima como mecanismo capaz de instrumentalizar os idosos na luta contra as dificuldades decorrentes de sua condição. Uma vez asilado, o idoso perde os referenciais políticos do mundo externo, tendo, sobre esse assunto, um conhecimento remetido ao passado. E este seria um âmbito importante a ser trabalhado em atividades que levassem os idosos à realidade de que estariam “distantes”.
Em função da existência de uma estrutura totalizante, os indivíduos tendem a se individualizar cada vez mais e tornam-se alheios e estranhos face ao outro. Este fato, juntamente com as implicações advindas do abandono familiar, gera um sentimento de inferioridade que contribui para que os idosos tenham dificuldades em se articular como grupo.
Em quase todos os encontros, o grupo não se constituiu, visto que as dificuldades e entraves anteriormente colocados se impuseram ao trabalho.
Ainda assim, penso que o trabalho teve um resultado positivo, frente a estas circunstancias. Acrescento, ainda, que a metodologia em questão produziu resultados terapêuticos, proporcionando trocas afetivas, informações e gestos de companheirismo entre os envolvidos.
Possibilitou termos acesso a um atmosfera traduzida em dor, emudecimento, coerção, medo, solidão e angústia.
O que pude ver em minha experiência, é que há idosos que, frente à instituição, se entregam de forma total às atmosferas da solidão, e idosos que buscam e às vezes encontram outros caminhos. Todavia, a falta de perspectiva, de motivação, de atividades, bem como a implicação do aspecto social, segregam os idosos, formando uma rede que, em certa medida, legitimam a busca, de muitos pelo fim. Oportunizar alternativas neste contexto é um desafio.
Preparar os idosos para um envelhecimento institucionalizado adequado é oferecer-lhes espaço para o desenvolvimento de uma intimidade plena. Mas não pode ser a negação de que a vida pública possa ter sentido para as pessoas de idade avançada.
Considero a necessidade de perceber e assegurar ao idoso asilado o lugar de sujeito capaz de participar da construção das regras internas, fazendo do asilo um lar onde o idoso possa expressar e vivenciar seus desejos de forma solidária, onde a clausura seja abolida e a liberdade possa ser garantida.
Essa melhor adaptação nortearia uma velhice mais prazerosa e a busca a continuidade da própria vida.